Presença da “delegação brasileira” confirma o crescente interesse pelo mercado, ensino e pesquisa em Tipografia no país. O mais importante evento do segmento contou com palestra do tipógrafo brasiliense Rafael Dietzsch.
A 62ª conferência anual da Association Typographique Internationale - ATypI aconteceu entre 11 e 15 de setembro na Antuérpia, cidade belga famosa pela sua tradição tipográfica, em especial pelo Museu Plantin-Moretus. O museu está localizado no prédio da gráfica Plantin Press, fundada no século XVI por Christoffel Plantijn e passada ao genro Jan Moretus após sua morte. Em excelente estado de conservação e uso, é considerado desde 2005 Patrimônio Mundial da UNESCO pela sua importância educacional, científica e cultural.
A produção tipográfica de Álvaro Franca foi apresentada tanto na exposição In Plantin's Footsteps, que teve lugar na exuberante igreja Sint-Pauluskerk, como na palestra de Eloïse Parrack e Elí Castellanos descrevendo um projeto colaborativo de pesquisa e revival de um tipo do belga Hendrik van der Keere da época da Renascença.
Contrariando o que se imagina sobre uma conferência da indústria tipográfica, nem todas as palestras são dedicadas ao design de tipos, como podem comprovar as excelentes apresentações de Sergio Trujillo sobre letterings de bandas e discos de Heavy Metal, de Craig Eliason sobre a influência da Didot nas revistas de moda, e mesmo a de Adam Twardoch que aborda as consequâncias da obsolescência dos software de design de tipos.
Considerada "a voz do design gráfico", a Tipografia vem passando por um período de franca ascendência no Brasil nas últimas décadas, tanto do ponto de vista da produção e comercialização de fontes digitais como do ensino e da pesquisa. Empresas de todos os portes licenciam ou encomendam fontes de profissionais brasileiros pela sua altíssima qualidade, frequentemente premiadas internacionalmente. Além da presença nos cursos de graduação e pós graduação, multiplicam-se cursos de workshops, eventos e mostras por todo o país. Brasília já sediou duas edições do DiaTipo, o principal encontro nacional do segmento, e recebeu todas as edições da Bienal de Tipografia Latino-Americana Tipos Latinos desde 2012. A oitava edição abre nesta sexta-feira 19 de outubro no Espaço Renato Russo.
Um presente para os designers brasileiros que se interessam pelo uso e desenho de tipos foi anunciado pelo atual presidente da ATypI, Gerry Leonidas: o valor da anuidade foi reduzido de U$110 para U$15 à partir deste ano, justamente para estimular o engajamento de profissionais e estudantes de todo o globo que nem sempre podem comparecer à conferência. E em se tratando das conferências anuais, as próximas acontecerão em Tóquio (2019) e Paris (2020). Vale a pena ir se organizando.
DICA Confiram o que mais aconteceu na ATypI 2018 - Antuérpia no episódio #106 do podcast Visual+Mente apresentado por Almir Mirabeau e Rafael Ancara com a participação dos designers Henrique Nardi e Fernanda Martins.
_Imagens: ATypI, Henrique Nardi, Bruno Porto e Álvaro Franca.
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Bruno Porto é designer gráfico, professor e consultor. Entre 2012-2017 foi coordenador do curso de Design Gráfico do Centro Universitário IESB e membro do Conselho Consultivo da Adegraf. Atuou como curador da 12ª Bienal Brasileira de Design Gráfico 2017, corealizada pela ADG Brasil e Adegraf em Brasília, e integrou o Colegiado Setorial de Design da Secretaria de Cultura do Distrito Federal (2014-2017). É membro do Conselho Consultivo da ADG Brasil e do GIBI - Grupo de Estudos de História em Quadrinhos do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília – UnB. Atualmente vive na Haia, Holanda.
Com o tema Legacies (Legados), a ATypI 2018 teve em sua programação um dia de workshops (terça 11) por toda a cidade; um dia com duas sessões simultâneas de palestras com temáticas técnicas / de mercado e acadêmicas / experimentais (quarta 12); e três dias de palestras no histórico Teatro Arenberg, localizado no centro da cidade. Com duração média de 20 minutos (exceto pelos keynotes, com o dobro), todas as palestras estão sendo gradualmente disponibilizadas no canal da entidade no YouTube. Recomendo começar pelo keynote do veterano type designer Matthew Carter em que é traçado um amplo panorama da tipografia experimental antes da era digital.
A "delegação brasileira" em frente ao painel-título da apresentação de Rafael Dietzsch, ausente da foto. |
Esta edição da conferência contabilizou um total dezesseis brasileiros entre membros da diretoria, palestrantes, voluntários e espectadores, ultrapassando os doze presentes na ATypI 2014 realizada em Barcelona e, claro, descontando a ATypI 2015, realizada em São Paulo com a presença de 150 brasileiros. Os integrantes desta “delegação brasileira” vieram do Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pará e São Paulo, além de países como Austrália, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos e Portugal. Os destaques nacionais ficaram por conta das palestras de Fernanda Martins & Edna Cunha Lima (em 12/9) e Rafael Dietzsch (13/9); da exposição dos trabalhos de conclusão da Expert Class Type Design do Instituto Plantin-Moretus, que incluiu a fonte Baixin de Álvaro Franca; e da belíssima identidade visual do evento, desenvolvida por Crystian Cruz e Laura Meseguer.
Na quarta-feira, Fernanda, professora na UNAMA, e Edna, professora na PUC-Rio, apresentaram descobertas decorrentes da pesquisa de doutorado da primeira na ESDI, co-orientado pela segunda, que apontam o paraense João Francisco Madureira como o primeiro designer brasileiro de tipos, por volta dos anos 1820.
Na quarta-feira, Fernanda, professora na UNAMA, e Edna, professora na PUC-Rio, apresentaram descobertas decorrentes da pesquisa de doutorado da primeira na ESDI, co-orientado pela segunda, que apontam o paraense João Francisco Madureira como o primeiro designer brasileiro de tipos, por volta dos anos 1820.
Na quinta-feira, Rafael Dietzsch, professor na UnB, apresentou um projeto de pesquisa em desenvolvimento com os também designers e professores Rafael Neder (FUMEC) e Leonardo Buggy (UFC) envolvendo a produção de tipos com madeiras brasileiras.
Baixin, de Álvaro Franca |
Contrariando o que se imagina sobre uma conferência da indústria tipográfica, nem todas as palestras são dedicadas ao design de tipos, como podem comprovar as excelentes apresentações de Sergio Trujillo sobre letterings de bandas e discos de Heavy Metal, de Craig Eliason sobre a influência da Didot nas revistas de moda, e mesmo a de Adam Twardoch que aborda as consequâncias da obsolescência dos software de design de tipos.
Considerada "a voz do design gráfico", a Tipografia vem passando por um período de franca ascendência no Brasil nas últimas décadas, tanto do ponto de vista da produção e comercialização de fontes digitais como do ensino e da pesquisa. Empresas de todos os portes licenciam ou encomendam fontes de profissionais brasileiros pela sua altíssima qualidade, frequentemente premiadas internacionalmente. Além da presença nos cursos de graduação e pós graduação, multiplicam-se cursos de workshops, eventos e mostras por todo o país. Brasília já sediou duas edições do DiaTipo, o principal encontro nacional do segmento, e recebeu todas as edições da Bienal de Tipografia Latino-Americana Tipos Latinos desde 2012. A oitava edição abre nesta sexta-feira 19 de outubro no Espaço Renato Russo.
Um presente para os designers brasileiros que se interessam pelo uso e desenho de tipos foi anunciado pelo atual presidente da ATypI, Gerry Leonidas: o valor da anuidade foi reduzido de U$110 para U$15 à partir deste ano, justamente para estimular o engajamento de profissionais e estudantes de todo o globo que nem sempre podem comparecer à conferência. E em se tratando das conferências anuais, as próximas acontecerão em Tóquio (2019) e Paris (2020). Vale a pena ir se organizando.
DICA Confiram o que mais aconteceu na ATypI 2018 - Antuérpia no episódio #106 do podcast Visual+Mente apresentado por Almir Mirabeau e Rafael Ancara com a participação dos designers Henrique Nardi e Fernanda Martins.
_Imagens: ATypI, Henrique Nardi, Bruno Porto e Álvaro Franca.
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Bruno Porto é designer gráfico, professor e consultor. Entre 2012-2017 foi coordenador do curso de Design Gráfico do Centro Universitário IESB e membro do Conselho Consultivo da Adegraf. Atuou como curador da 12ª Bienal Brasileira de Design Gráfico 2017, corealizada pela ADG Brasil e Adegraf em Brasília, e integrou o Colegiado Setorial de Design da Secretaria de Cultura do Distrito Federal (2014-2017). É membro do Conselho Consultivo da ADG Brasil e do GIBI - Grupo de Estudos de História em Quadrinhos do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília – UnB. Atualmente vive na Haia, Holanda.