Pular para o conteúdo principal

Entrevista do portal Design Brasil com Patrícia Weiss, presidente da Adegraf,

“Nosso maior trabalho ainda é conscientizar todos da importância de se juntar a uma entidade representativa local”

Caro, barato, adequado? Muita gente ainda patina quando o assunto é o valor de um serviço de design. Para auxiliar profissionais e clientes, a Associação dos Designers Gráficos do Distrito Federal, a Adegraf, elaborou em 2005 uma tabela referencial. O objetivo é educar o mercado e evitar abusos de ambas as partes, afirma Patrícia Weiss, presidente da entidade, em entrevista ao Portal DesignBrasil.

Patrícia é gerente da equipe de criação do Banco Central (BC) e lidera sete designers e duas revisoras, por meio do contrato com a Gráfica Ideal. A paulista de Jundiaí formou-se em Desenho Industrial (Programação Visual) pela Universidade Federal do Paraná. Começou sua carreira em Curitiba, no Sesc, e em seguida foi para Brasília, onde trabalhou numa pequena agência de comunicação e marketing e gerenciou o setor de impressão digital numa gráfica rápida. Meses depois abriu a Lumina Design. Depois de voltar a morar em São José dos Campos, onde foi criada, voltou para a capital federal.Em 2002 recebeu um convite para assumir a liderança da equipe de criação do BC. Assumiu a presidência da Adegraf em abril de 2005.

Nesta entrevista, concedida no final de dezembro, Patrícia Weiss fala sobre diversos assuntos: Tabela Referencial de Valores, Regulamentação e como está o mercado em Brasília.

DesignBrasil: A Adegraf tem quantos associados atualmente? Esse número representa que fatia do universo de profissionais atuantes no Distrito Federal?
Patrícia Weiss: Atualmente a Adegraf tem 25 associados ativos. Esse número é muito pequeno em relação ao universo de profissionais e estudantes do DF. Percebemos que as pessoas têm interesse em efetivar a associação, mas isso não acaba acontecendo. Procuramos dar incentivos, benefícios e facilidades, mas não conseguimos aumentar o quadro de associados. Infelizmente, uma associação não pode existir sem pessoas que se juntem para realizar objetivos em comum. Se esse quadro não se reverter, não sabemos qual será o futuro da associação.

DesignBrasil: Qual é o perfil desses associados? A maioria tem sua própria empresa, é autônomo ou trabalha para empresas?
Patrícia Weiss: O perfil dos associados está bem distribuído dentre as situações mencionadas. Mas certamente a maioria trabalha com o Governo Federal, principalmente de forma terceirizada.

DesignBrasil: Como está estruturado o mercado de design gráfico no Distrito Federal?
Patrícia Weiss: Não podemos dizer que o mercado de design gráfico esteja estruturado no Distrito Federal. Percebe-se uma evolução nas relações existentes entre clientes e profissionais, mas ainda encontramos uma oferta de serviços sem qualificação e um desconhecimento sobre a matéria e serviços de design gráfico que compromete o entendimento sobre referências para contratação. Os profissionais têm, diariamente, uma batalha para esclarecer o mercado sobre suas qualificações e diferenciais e para conseguir uma oportunidade de apresentar seu trabalho. Identificamos alguns poucos escritórios com mais de cinco anos no mercado a maioria já passou por adaptações estruturais para conseguir se manter , profissionais atuando por demanda e outros contratados pelo governo e por empresas.

DesignBrasil: O governo é o principal cliente? Ou a maioria das contas do governo é vencida por empresas de outros estados?
Patrícia Weiss: O Governo ainda é o principal cliente. Quando as contas são grandes, são as agências de propaganda do Rio e de São Paulo que ganham, e no bolo das campanhas vão os trabalhos de design que elas nem se interessam. Por isso, essas agências possuem filiais em Brasília e contratam designers aqui para desenvolverem esses projetos, de forma a agilizar o trabalho. Nos casos de tomadas de preços menores, o Governo prefere convidar os escritórios e profissionais autônomos regionais, principalmente porque isso já é uma garantia de preço menor. Mesmo assim, o trabalho de criação é contratado à parte da impressão, o que, de certa forma, evita que os designers fiquem dependendo de outras empresas para realizarem seu trabalho com o Governo.

DesignBrasil: Como é o seu trabalho no Banco Central?
Patrícia Weiss: No Banco Central, a nossa equipe desenvolve todos os trabalhos de criação, editoração e manipulação de imagens que o Banco necessita. Reformulamos os projetos gráficos das publicações, editoramos os relatórios, livros e manuais da instituição, cuidamos da identidade visual das peças gráficas dos eventos, do Museu de Valores, da Universidade Banco Central do Brasil, do Programa de Educação Financeira. Desenvolvemos algumas peças promocionais, como calendário, caixas-brinde, pastas. Cuidamos da correta utilização da identidade institucional em convites, em materiais de expediente e em aplicações diversas. Todo o material é desenvolvido pela equipe dentro Banco e impresso pela Gráfica.

DesignBrasil: O nível dos profissionais egressos das faculdades locais é satisfatório?
Patrícia Weiss: Sim, o nível dos profissionais no DF é muito bom. Não deixa nada a desejar aos grandes centros.

DesignBrasil: São Paulo e Rio de Janeiro, e cidades da região sul, como Curitiba e Porto Alegre, concentram os principais eventos de design. O que a Adegraf tem feito para movimentar o cenário local?
Patrícia Weiss: A Adegraf é uma associação muito pequena que luta para se fortalecer. O nosso maior trabalho ainda é conscientizar os profissionais e estudantes da importância de se juntarem a uma entidade representativa local. Na realidade, todos têm as velhas queixas, mas ainda estão muito preocupados em correr sozinhos atrás dos clientes ao invés de se juntar para efetivar uma ação em conjunto. Mesmo assim, temos tentado atrair a atenção desses profissionais e estudantes com palestras, com o catálogo de associados, com o concurso de postais, com a exposição e com o apoio aos diversos eventos promovidos pelos estudantes. No entanto, temos poucas pessoas disponíveis para esse trabalho voluntário. Os resultados acabam vindo muito lentamente.

DesignBrasil: Recentemente a Adegraf lançou uma Tabela Referencial de Valores? Por quê?
Patrícia Weiss: Porque sabemos que a valorização do trabalho, principalmente da prestação de serviço, sempre é muito difícil de ser realizada. Na faculdade aprendemos a criar, a planejar, até a abrir uma empresa. No entanto, não aprendemos a colocar preço no serviço que realizamos. A tabela da ADG está muito fora da realidade do DF. Os profissionais acabavam usando-a como uma referência distante, fazendo uma mistura com outras tabelas de agências de propaganda e tabelas de outros estados. Cada profissional passava um valor para o cliente e este também não tinha noção de qual era o preço justo. Ou pelo menos o preço médio dos serviços de criação. A tendência do cliente, principalmente o cliente pequeno, é sempre puxar pra baixo o valor do serviço, em grande parte pela falta de conhecimento do que compreende o desenvolvimento de um trabalho. Também já recebemos vários pedidos do próprio Governo Federal de tabelas de valores como uma referência na contratação dos serviços. Essa é uma forma de educar o mercado e evitar abusos de ambas as partes. Já tivemos conhecimento que a tabela está auxiliando os profissionais a captarem trabalhos mais facilmente. 

DesignBrasil: Quais os critérios utilizados para a elaboração da tabela e qual foi a base para estipular valores? Eles são os valores mínimos a serem praticados?
Patrícia Weiss: Procuramos fazer uma tabela abrangente, incluindo referências de tamanhos, características e definições das peças, tanto para constituir uma base clara, quanto para promover o lado educativo. Procuramos não menosprezar nenhum tipo de trabalho, pois, para o escritório pequeno, ou mesmo para o profissional autônomo, muitas vezes são os trabalhos pequenos que garantem o faturamento no final do mês. A base para estipular os valores foi uma média do que é praticado por alguns escritórios regionais. Sabemos que o ideal seria fazer um debate ou uma pesquisa mais elaborada. No entanto, por experiências passadas, sabemos que as discussões dificilmente têm efeito prático e a necessidade era maior do que o tempo necessário para esse debate mais amplo. Resolvemos lançar essa tabela sem mais delongas, com o compromisso de irmos ajustando esses valores aos poucos. Sempre enfatizamos que a tabela é referencial, pois cada profissional tem seus custos fixos e variáveis. Elaboramos a tabela com preços médios, e não mínimos, para que aquele profissional que tem condições de valorizar mais seu trabalho, seja pelo seu tempo de experiência, seja por sua estrutura, não tenha um orçamento tão distante do definido na tabela.

DesignBrasil: A que você atribui as dificuldades de muitos profissionais, principalmente os que estão começando na profissão, em estipular os valores que devem cobrar por seus serviços?
Patrícia Weiss: Primeiro vem a razão que já citei acima: o designer não aprende quanto vale seu trabalho. Dificilmente uma pessoa de criação consegue ter o perfil administrativo adequado. Por outro lado, também há a concorrência desleal daqueles profissionais que não têm o conhecimento adquirido dentro da faculdade, o que, em tempos de Corel pirateado, facilita trabalhos tecnicamente inferiores àqueles desenvolvidos com estudo, leitura e treino em observação. Finalmente, a desinformação do mercado força os recém-formados a aceitarem qualquer condição para montarem portfólio.

DesignBrasil: A Adegraf, por estar em Brasília, tem acompanhado mais de perto o percurso do projeto de lei que propõe a Regulamentação da profissão de designer. Em função de todo o cenário de turbulência política que mobilizou as atenções dos deputados no segundo semestre de 2005, você acredita que há chances da discussão ser retomada nos próximos meses?
Patrícia Weiss: Dificilmente conseguiremos retomar essa discussão tão cedo. Até o deputado Eduardo Paes, que apresentou o atual projeto, está envolvido nas CPIs e não está tendo tempo para nos receber. Ano que vem os políticos certamente estarão envolvidos com suas reeleições. Se não tivermos um representante forte na Câmara, dificilmente nosso projeto de lei terá continuidade. 

DesignBrasil: Que ações a Adegraf, ao lado das demais instituições parcerias, vêm tomando para mobilizar os profissionais e sensibilizar os parlamentares?
Patrícia Weiss: Estávamos acompanhando a tramitação do PL e, por iniciativa nossa, as caixas dos parlamentares foram invadidos por uma enxurrada de e-mails dos designers pedindo a revisão do parecer contrário da deputada Iara Bernardi. Graças a isso, conseguimos que ela pedisse a audiência pública para ouvir nossos argumentos a favor da regulamentação. Infelizmente fomos atropelados pelos escândalos do Governo e não temos força nem disposição de tempo para sobressairmos aos atuais acontecimentos. Como já disse anteriormente, a Adegraf é uma associação pequena, com pouca mão de obra disponível. Temos que cuidar dos assuntos regionais e do projeto de lei. É praticamente impossível termos sucesso em todas as responsabilidades, ainda mais nessa de vulto nacional. As demais associações também se envolvem na medida do possível, mas acredito que todas enfrentam situações como a nossa, em maior ou menor escala.

DesignBrasil: A Adegraf promoveu recentemente um concurso de postais “O Design e a Capital”. Além de estimular a criatividade de profissionais e estudantes, qual foi o objetivo da iniciativa? A associação pretende estimular a cidade a produzir postais com um design menos tradicional?
Patrícia Weiss: Os objetivos da associação eram envolver os profissionais e estudantes em uma iniciativa regional; darmos visibilidade ao trabalho desenvolvido por pessoas competentes; mostramos ao mercado o que é e para que serve o design gráfico; mostrarmos que existe uma associação regional que serve como referência para mercado e profissionais. Essa ação começou com o concurso, culminou com a exposição e permanece com a distribuição dos postais. Ainda estão sendo distribuídos gratuitamente, em Brasília, 50 mil postais 5 mil de cada vencedor. Nossa intenção vai além do postal em si. Queremos mostrar que um trabalho gráfico deve ter qualidade, planejamento, razão de ser. Que a comunicação não verbal ultrapassa o óbvio e que, se bem pensada, pode transmitir muito mais do que uma imagem pronta, gratuita, como é um postal tradicional. O design gráfico mexe com a percepção do ser humano. Isso torna as peças gráficas muito mais interessantes.

DesignBrasil: Em termos de design, quais foram os resultados do concurso? O que os candidatos, em especial os vencedores, apresentaram de inovador em relação ao modelo tradicional de postais?
Patrícia Weiss: O resultado do concurso foi excelente. Os candidatos apresentaram trabalhos com interferências gráficas de grande qualidade. Brasília é uma cidade que possui uma paisagem urbana extremamente gráfica. Isso foi bastante valorizado nas soluções apresentadas, o que acaba dando abertura para se desenvolver até uma identidade regional.

DesignBrasil: Quais as metas a atingir até o final do mandato?
Patrícia Weiss: Temos muitas idéias e vontade de realizar muitas coisas, mas nos falta tempo e disponibilidade. Uma das idéias que vamos tentar desenvolver em 2006 é um catálogo dos profissionais locais, uma espécie de “Talento” de designers, mapeando todos os profissionais e estudantes, sem exceção. Tivemos a experiência de fazermos um catálogo de associados, mas uma reedição seria pouco representativa. Queremos nos firmar como referência para profissionais e mercado locais.

DesignBrasil: A Adegraf é hoje única associação regional no Brasil especializada em um segmento do design, o gráfico. No futuro, vocês planejam ampliar sua abrangência da atuação da Adegraf para todas as áreas de design, como fez a Apdesign, que surgiu como uma associação de desenho industrial?
Patrícia Weiss: Isso seria ótimo, mas primeiro precisamos congregar os designers gráficos, que é nosso principal objetivo. Não adianta queremos abraçar todos os profissionais a qualquer custo, simplesmente porque precisamos crescer. Isso acabaria tornando a associação sem uma identidade definida e não conseguiríamos realizar um trabalho satisfatório em todas as áreas. A Apdesign tem muito mais tempo de estrada e tradição e tem todo o mérito em chegar aonde chegou. À medida que a Adegraf for crescendo, poderemos ampliar nossos horizontes.

O site da Adegraf é www.adegraf.org.br e o e-mail de contato: presidencia@adegraf.org.br

Fonte: http://www.designbrasil.org.br/entre-aspas/patricia-weiss/

Postagens mais visitadas deste blog

ABNT disponibiliza primeira norma para serviços de design

Os serviços de Design tem sua primeira norma brasileira publicada, a ABNT NBR 16516 Serviços de Design - Terminologia , que conceitua os termos básicos do Design, e pode ser adquirida pelo site: http://www.abntcatalogo.com.br/sebrae/ Ela é fruto de dois anos de trabalhos da Comissão de Estudo Especial de Serviços de Design da ABNT (ABNT/CEE-219), uma parceria firmada entre a ABNT e o Sebrae, que contou com a participação de representantes de diversas instituições profissionais e de ensino do país (ADP, ADG, Adegraf, Abedesign, Prodesign-PR, Sindesign, ABD, Centro Brasil Design, Centro Minas Design, ABRE, Abiplast, Abinee, INPI, CAU, SEBRAE, PUC-PR, UERJ, SENAC, SENAI, UFPR, FAAP, UEMG e UniBH), e que também esteve aberta à participação pública pelos sites daquelas instituições. Os trabalhos da Comissão continuam em andamento, agora no desenvolvimento da norma ABNT NBR 16585 Serviços de design – Diretrizes para boas práticas , que está aberta para consulta nacional pelo site: http:/

A Marca do Designer

Em 1986, após sua saída da Apple, Steve Jobs chamou Paul Rand – um dos mais influentes designers gráficos do século XX – para criar a marca de sua nova empresa, a NeXT. Desse projeto, Jobs tirou lições que, segundo ele, todo o designer, cliente ou empreendedor deveria considerar. Nesta entrevista, ele contou como foi trabalhar com Paul Rand e o que aprendeu com o designer.  Já nós, designers, podemos aprender com a postura profissional de Paul Rand, se posicionando como especialista para resolver o problema da empresa. Jobs o descreve como, “mais que um artista, um solucionador de problemas de negócios”. Steve Jobs desejava que sua nova empresa tivesse um símbolo que fosse imediatamente associado à marca – algo que leva muito tempo e dinheiro para acontecer na mente do consumidor. Segundo ele, Rand encarou o projeto como um problema a ser resolvido, e não como um desafio artístico em si.  "O significado de uma marca deriva da qualidade do que ela repr

Ano Novo Laranja

A Holanda recebe 2019 com a 50ª edição de uma divertida ação de marketing.   Enquanto o Brasil sofre com os escândalos de seus laranjas políticos, a Holanda adota a cor - tradicionalmente associada à família real Oranje-Nassau - em seu uniforme de futebol e na principais festividades nacionais. Entre elas, uma recente tradição iniciada na década de 1960 ficou associada a uma bem sucedida campanha promocional identificada por um gorrinho laranja: o Mergulho do Ano Novo — em holandês, Nieuwjaarsduik . Inspirados por um clube de natação canadense - o Polar Bear Swim Club - que desde a década de 1920 repete o feito anual, nadadores holandeses passaram a saudar o ano novo no dia primeiro de janeiro com um mergulho no gelado Mar do Norte. Em 1965 o Nieuwjaarsduik chegou à Scheveningen, um dos oito distritos da capital política do país, Den Haag, e a praia mais famosa da Holanda. O que começou com apenas oito nadadores ganhou popularidade e se tornou um evento organizado pela